sábado, 20 de setembro de 2014

Notas de alunos manipuladas? Toda a gente sabe em que escolas e disciplinas. E porque é que nada acontece?

O CNE, presidido por David Justino, coloca, finalmente, o dedo na ferida. Há muitos anos que se sabe que, em muitas escolas deste país, se utiliza a estratégia de "inflacionar" as notas internas dos alunos, por forma a compensar os desastres ocorridos nos exames nacionais, a fim de que a média final permita que muitos desses alunos consigam entrar no ensino superior. 
Basta analisar as pautas e comparar as notas internas e os resultados nos exames nacionais para perceber que, muitas vezes, não há discrepâncias de resultados por mero acaso ou azar. Mas, o inverso também ocorre em muitas escolas, sobretudo privadas: alunos que vão a exame como externos, por redução forçada da sua nota interna, de forma a não deixarem mal vistas as suas escolas. Enfim, políticas escolares que, muitas vezes, são assumidas internamente por todos (ou quase todos), mas que, na prática, constituem um fenómeno de manipulação dos resultados escolares, favorecendo uns alunos e prejudicando outros. 
Em dezasseis anos de serviço, muitos dos quais, em escolas secundárias e com a disciplina de Geografia A do 11º ano a meu cargo (e, portanto, em ano sujeito a exame nacional), felizmente nunca fui "pressionado" por ninguém com vista a facilitar os alunos, com receio daquilo que pudessem fazer no exame nacional. Bem sei que o exame de Geografia A não é dos mais complicados e que, portanto, não se trata de uma disciplina onde haja grande receio de haver discrepâncias entre as notas internas e externas. Quem dá aulas ao secundário sabe que as disciplinas onde este tipo de manipulação das notas mais costuma ocorrer são, por exemplo, as de História (muitas vezes de forma flagrante), mas também as de Matemática, Física e Química ou Biologia.
Mas, se o CNE avança, no seu relatório, com o aviso (que não é novidade para quem lecciona), porque não vai mais além, limitando-se a remeter para a tutela a análise e resolução deste problema? Todos os anos são publicados os rankings das escolas, pelo que basta pegar nos últimos cinco rankings para ver que há escolas onde, sistematicamente, existem enormes discrepâncias entre as notas internas e os resultados externos. O que tem sido feito? A tutela tem fechado os olhos...
E, nas privadas, todos sabemos como funcionam muitas delas, por forma a conseguirem chegar aos primeiros lugares dos rankings nacionais. 
Bem sei que muitas das escolas onde as notas internas são inflacionadas se situam em regiões desfavorecidas e com graves problemas sociais, e que o argumento utilizado para a inflação das notas é a de que os exames não devem servir de "barreira" à conclusão dos estudos ou à entrada no ensino superior. Mas, também não nos esqueçamos que os exames nacionais valem 30% da nota final e que, portanto, não determinam assim tanto e de forma tão decisiva a conclusão dos estudos. Há mínimos que devem ser cumpridos, por forma a evitar termos na Universidade alunos medíocres que têm 5 valores num exame nacional, mas conseguem passar à disciplina porque levam 13 valores de nota interna... Tem de haver um mínimo de exigência!!!

12 comentários:

Anónimo disse...

pior que isso é inflacionar até ao exagero a nota de certos alunos que são familiares ou amigos de alguém com influencia nessa escola. A corrupção começa na escola e depois não percebo o ar de sonso de algumas personagens contra políticos corruptos quando eles praticam a corrupção.

Anónimo disse...

Vergonhoso. O pior é que não acontece mesmo nada. E os penalizados são mesmo os bons alunos que percebem logo ao ver as pautas que os seus colegas é que foram beneficiados nas notas.

Célia disse...

A notícia é enganadora, pois as notas não são falsificadas. Não podemos é querer que os resultados internos sejam iguais aos resultados de exames. É normal que sejam diferentes pois nas notas internas há outros parâmetros que são avaliados, como os trabalhos práticos e as atitudes.

Anónimo disse...

Um Otelo e um Campo Pequeno...

Anónimo disse...

Amanhã vou por atestado psiquiátrico...

... segundo parece, as fraudes, perdão, as faltas agora contam para todos os efeitos como tempo de serviço!

Viva a fraude!

Anónimo disse...

E...
... por falar em fraudes... o que nos tem a dizer acerca da tecnoforma?

Agnelo disse...

Caro Pedro
Não é verdade que a tutela tenha estado desatenta ao fenómeno.
De facto, uma das componentes do crédito de que as escolas podem beneficiar é exatamente a proximidade entre as notas internas e as de exame.
E é assim desde há dois anos.
A escola onde trabalho foi bonificada com 20 horas por ter CIFs e CEs muito próximas.

Pedro disse...

O tempo para escrever tem sido escasso. Sinal de muito trabalho...

Célia, é claro que as notas internas não têm de ser iguais às notas externas. Mas, isso não quer dizer que se compreenda que em muitas escolas, a determinadas disciplinas e em anos consecutivos se considere normal que médias internas de 15 valores correspondam depois a 5 valores de média nos exames...

Um anónimo fala da Tecnoforma. Nada tem que ver com o assunto do artigo. Mas, não fujo à questão. É um assunto com muita especulação e mal contado. Nada mais. Pelo menos, por enquanto...

Caro Agnelo, tem razão no que diz. Mas, não chega. Há escolas que preferem não ser contempladas com esse crédito e terem "porta aberta" para inflacionarem as notas internas (muitas vezes de forma descarada!) e verem muitos dos seus alunos no ensino superior com médias internas muito inferiores aos resultados dos exames... Basta consultar os rankings.

Anónimo disse...

Claro que a tecnoforma não tem nada a ver (aparentemente) com este artigo, mas, não se trata igualmente de uma fraude?!!?

Agora me lembro, trata-se da reputação e do bom nome do leporídeo de estimação.

Aguardo (no outro blog) artigo a respeito, por respeito ao assunto e para manter o respeito por si!

Pedro disse...

Quer que opine sobre especulações, suposições e "diz que disse"? Qual a fraude a que se refere? Reembolsos de despesas? Por favor...
Ou quer que recorde verdadeiros casos de fraude como licenciaturas tiradas ao domingo, licenciamentos feitos no gabinete de umas casas na Guarda, pagamentos obscuros feitos no caso Freeport ou contas bancárias astronómicas da mãe de um ex-Primeiro Ministro? E, atenção, que estes casos não têm nada de suposições...
Sobre o caso a que se refere, é claro que caso houvesse matéria suficiente a resposta só poderia ser uma: demissão. Mas, que eu saiba só há poeira, muita poeira e nada mais...

Anónimo disse...

Pois...
... já se fosse o sócrates....

Recordo-me também da dificuldade que teve em se manifestar sobre o relvas...

Anónimo disse...

Um Otelo e um campo pequeno